Crônica de uma submissão energética anunciada: a dependência que apaga um Estado

Na madrugada de 24 de maio de 2025, Roraima mergulhou mais uma vez na escuridão. O motivo? Mais um apagão provocado pela dependência energética que o Estado mantém da Venezuela. Em plena era da transição energética e da digitalização da economia, um Estado brasileiro continua dependente da infraestrutura de um país vizinho mergulhado em uma de suas piores crises políticas, sociais e econômicas. Isso não é apenas uma falha logística ou técnica — é um retrato vivo da estagnação estratégica do Brasil e da submissão da Amazônia aos interesses externos.

Não é de hoje que Roraima sofre com apagões. A interligação ao Sistema Interligado Nacional (SIN) é uma promessa antiga que nunca saiu do papel. E o motivo principal? Ambientalismo radical. A construção da linha de transmissão de Tucuruí, que interligaria Roraima ao restante do país, foi sistematicamente travada por questões ambientais. Hidrelétricas propostas em rios amazônicos — fontes limpas e renováveis de energia — foram embargadas por discursos ambientais travestidos de preocupação com a biodiversidade e os povos tradicionais.

No entanto, ironicamente, o mesmo discurso que impede a construção de usinas limpas e sustentáveis aceita com naturalidade a queima de óleo diesel em termoelétricas altamente poluentes para suprir a energia que falta em Roraima. Como justificar a rejeição à hidreletricidade limpa, enquanto se aceita com resignação o uso de combustível fóssil altamente poluente? A incoerência é gritante, mas convenientemente ignorada por boa parte dos militantes ambientais e por instituições que deveriam primar pela racionalidade e pelo equilíbrio entre progresso e preservação.

Roraima é apenas o sintoma de um problema muito maior. O Brasil tem capacidade técnica e ambiental para dobrar sua produção energética — principalmente com fontes renováveis como a hidrelétrica. Contudo, o país vive acorrentado a uma legislação ambiental que vem sendo sequestrada por ONGs e organismos internacionais que pouco ou nada se importam com a soberania nacional e o bem-estar dos brasileiros.

Projetos como a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, entre outros na bacia amazônica, estão engavetados há décadas por decisões judiciais motivadas mais por ideologia que por dados científicos. Enquanto isso, nossos vizinhos — inclusive a própria Venezuela — seguem explorando suas fontes energéticas, enquanto nos condenam a importar energia cara, instável e vergonhosamente precária.

Essa realidade é resultado direto da falta de visão de longo prazo e do empoderamento excessivo de setores que colocam entraves em nome de uma pseudo-sustentabilidade. Enquanto países desenvolvidos traçam planos estratégicos para os próximos 30 ou 50 anos, o Brasil se debate em contradições internas, refém de uma pauta ambiental distorcida, que protege muito pouco a natureza e inviabiliza muito o desenvolvimento.

É hora de recolocar a soberania energética do país como prioridade. É hora de o Brasil retomar sua capacidade de planejar e executar obras estruturantes com base em critérios técnicos e científicos, e não em dogmas importados. O caso de Roraima é, antes de tudo, um alerta. E como todo alerta, precisa ser ouvido antes que se torne tarde demais.

 

Por Fábio Maia

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