O MERCADO DE CARBONO E A ARMADILHA VERDE PARA O PARÁ

Por Fábio Maia

Na esteira do discurso ambientalista global, surge o tão celebrado “mercado de carbono” — uma proposta que, à primeira vista, parece ser o futuro sustentável da economia amazônica. Mas será que essa promessa de progresso verde realmente serve aos interesses da população paraense? Ou estamos diante de uma nova engrenagem de dominação, agora travestida de filantropia ecológica? A crítica feita por Aldo Rebelo, ex-ministro e ex-deputado federal, acende um alerta que precisa ser levado a sério: o mercado de carbono pode representar uma nova forma de dependência e bloqueio ao desenvolvimento da região.

A NARRATIVA PERFEITA, O RISCO REAL

O mercado de carbono é vendido como uma ferramenta para salvar o planeta: empresas que poluem em países desenvolvidos compram “créditos” gerados por quem mantém floresta em pé. O problema começa quando se olha para o chão e não para o PowerPoint das conferências internacionais. No caso do Pará, estado que abriga uma das maiores áreas de floresta do Brasil, o risco é claro: transformarmo-nos em fornecedores ivos de crédito ambiental, enquanto abandonamos atividades econômicas fundamentais como agricultura, pecuária, mineração e até a geração de energia.

A tese de Aldo Rebelo vai direto ao ponto: ao aderir de forma apressada ao mercado de carbono, sem soberania nem controle nacional, o Brasil — e o Pará em particular — pode virar uma espécie de “reserva ecológica a céu aberto”, em que o povo vive à margem das decisões e dos lucros. E pior: pode trocar uma economia real e produtiva por promessas voláteis de compensações financeiras. O resultado? Uma população refém de ONGs e consultorias estrangeiras que ditam as regras do jogo, enquanto nossos jovens continuam sem emprego, nossas estradas sem asfalto, e nossas escolas sem estrutura.

A ESTRATÉGIA INTERNACIONAL E O PAPEL DAS ONGs

Como bem aponta Rebelo, há um jogo geopolítico por trás dessa história. Governos europeus e fundações como Ford e Rockefeller financiam ONGs que atuam intensamente na Amazônia. Mas curiosamente, essas mesmas ONGs não se importam com a poluição do rio Tietê ou a degradação ambiental em países africanos onde a Europa mantém interesses econômicos. O foco na Amazônia não é por compaixão ecológica: é pelo potencial mineral, energético e geoestratégico da região.

No Pará, esse cerco já está em andamento. Leis ambientais rígidas, promovidas com apoio dessas ONGs, travam a regularização fundiária e bloqueiam investimentos produtivos. Ao mesmo tempo, projetos de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) prometem compensações milionárias, mas impõem regras que dificultam até o manejo sustentável por parte das comunidades locais. O que parece solução pode ser, na prática, um novo tipo de colonização.

UMA ESCOLHA FALSA: ENTRE FLORESTA OU PROGRESSO

O debate é sempre colocado de forma maniqueísta: ou você apoia o mercado de carbono, ou quer destruir a floresta. Isso é falso. O Pará pode — e deve — conciliar preservação com progresso. Mas isso não acontecerá se entregarmos nossa política ambiental aos interesses de fora. A floresta em pé não pode ser moeda de troca para manter o povo no chão.

Afinal, de que adianta manter 80% da floresta intacta se 80% do povo vive sem saneamento básico, sem o pleno à energia, ou sem perspectivas de emprego? O verdadeiro “desenvolvimento sustentável” precisa colocar o povo no centro — não os interesses dos mercados financeiros internacionais.

CONCLUSÃO

A crítica de Aldo Rebelo ao mercado de carbono não é negacionista, nem antiambiental. É uma crítica soberana. O Pará não pode repetir a história da troca do ouro por espelhos — agora na versão verde. Precisamos refletir: estamos entrando em um novo ciclo de riqueza para poucos, ou construindo um futuro de autonomia e dignidade para todos?

Quem, afinal, está lucrando com a floresta em pé enquanto o povo continua de joelhos?

O Impacto

7 comentários em “O MERCADO DE CARBONO E A ARMADILHA VERDE PARA O PARÁ

  • 21 de maio de 2025 em 07:52
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    Eu leio diariamente as postagens do Impacto, principalmente as de Fábio Maia que se comunica com muita competência e sabedoria. Coincidentemente é exatamente como eu penso e comento sobre o tal MERCADO DE CARBONO.
    Parabéns Fábio Maia.

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  • 20 de maio de 2025 em 11:28
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    Parabéns ao Fabio Maia pelo texto, um alerta real de como o nosso estado está sendo engessado pelo próprio governo, ao aderir a agendas de ONG´s, ONU e países europeus, eu também vejo que não vamos ganhar nada com isso, ou melhor, iremos ganhar a perpetuação da pobreza, mas isso não interessa a nenhum político, não irão mudar pois a mudança os prejudica. O Pará, com essa COP 30 e compromissos assumidos, não para melhorar a vida de ninguém nas regiões afetadas, mas para garantir verbas em seus cofres pra benefício próprio, ja percebemos isso em Decretos e leis que apenas penalizam a população, com textos até bonitos, mas o fim é o mesmo, nivelar a todos pela pobreza como podemos conferir no Decreto 941/2020 e na sua segunda versão através da Lei nº 10.750 de 2024, esses compromissos do estado não chegam para legalizar ninguém, para realmente implantar o desenvolvimento, ao menos seguir o que diz a lei, mas apenas para massacrar e colocar quem produz na ilegalidade, vejo isso em minha região todo santo dia.

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  • 19 de maio de 2025 em 11:08
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    Se as ONGs que existem fossem favoráveis ao Brasil, não estaria se manifestando com o jeitinho de progresso pra nosso país, sem que o perigo fica pra nós brasileiros paraenses. Tem que analisar essas proposta com um olhar de quem deseja o progresso de verdade para o Brasil.

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    • 22 de maio de 2025 em 08:33
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      Exatamente!!

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